Noélia e Jerónimo. Os dedos das mãos e dos pés, da família, não chegam para contar as vezes que recomendei este restaurante desde que o conhecemos, faz hoje precisamente um ano.

Em Setembro do ano passado, no fim de um longo dia de praia, combinamos jantar com um casal amigo e filhos. Depois de um dia inteiro a tentar ligar para o Noélia e Jerónimo, que nenhum de nós conhecia, finalmente fomos atendidos ao final da tarde, só para nos dizerem que já não tinham mesa para esse dia. O Ricardo, do tal casal, não se deu por vencido e decidiu que iria até Cabanas de Tavira, ao restaurante, na esperança de que uma mesa vagasse. Bendita a hora em que o fez. Depois de esperarmos cerca de uma hora à porta do restaurante, lá chegou a nossa vez. E nessa noite tivemos um dos melhores jantares que alguma vez nos foi servido em terras algarvias.

De memória nos ficaram o atendimento simpático, tudo quanto nos puseram na mesa e até a amabilidade da própria Noélia que, ao fim do jantar veio à nossa mesa perguntar se tudo tinha estado do nosso agrado. Logo ai recebeu os nossos maiores elogios. Mas que maiores elogio se poderá dar a um restaurante, para além da genuína recomendação, do que lá voltar?

E assim sim foi. Um ano depois, voltámos ao Noélia e Jerónimo.

Tentámos uma vez mais telefonar para o restaurante mas, a exemplo do que já nos tinha acontecido, não tivemos a sorte de ser atendidos. Fomos à sorte, confiantes de que abrindo o restaurante às 19h00, chegando um pouco antes disso talvez conseguíssemos mesa. Chegámos ao Noélia e Jerónimo eram 18h45. A esplanada já estava cheia (duas mesas de dois lugares vazias) e na sala, todas as mesas, ainda que vazias, ostentavam já o sinal de reservado.

Deixámos o nome na lista de espera. Só havia uma familia de 3 pessoas à nossa frente, Talvez não demorasse assim tanto pensámos. Demorou. Uma hora e meia depois, durante a qual ficámos à entrada da esplanada olhando para as mesas da sala que continuavam na sua grande maioria, vazias, fomos chamados. Menos mal.

Uma hora e meia à porta de um restaurante. Quem nos conhece sabe que não somos destas coisas. Esperar não é algo que nos choque mas uma hora e meia? Sim, nós tínhamos ficado verdadeiramente impressionados com o Noélia e Jerónimo.

A simpatia do Francisco, o responsável pela nossa mesa, não teve o que se lhe apontasse. Referimos a nossa anterior passagem pelo restaurante e umas quantas leituras sobre o mesmo. Da experiência própria pedimos para começar uma sopa de peixe para cada um. Não desiludiu. Tal como a anterior, muito saborosa e com peixe, coisa que nem sempre se vê em sopas do dito. Um pouco mais rala que o ano passado e com massa, outra inovação.

Também levados pelo que já conhecíamos, pedimos o bife de atum braseado acompanhado de arroz de gengibre e manga, ao que parece, um doss clássicos da casa. O ano passado o arroz de gengibre não tinha manga e sim amêndoas. Disse-nos o Francisco que acontece. Amêndoas tem sempre. Manga quando há. Por vezes tem framboesa. Venha de lá isso.

Já levados pelas leituras das muitas reviews que se encontram pela Internet, resolvemos pedir o famoso polvo frito com batata doce frita. Confirmam-nos: é um dos pratos com mais saída. Infelizmente, foi a primeira desilusão.

Noélia e Jerónimo Polvo Frito
Polvo Frito com Batata Doce. Se os olhos comem, ficamos com fome

O polvo estava saboroso, estava. As batatas doces fritas estavam efetivamente muito, muito boas. A combinação funciona mas não basta mandar duas coisas que combinam para dentro da travessa para ter um grande prato. Sendo que os olhos também comem, só por aí ficaríamos com fome. A apresentação torna o famoso polvo numa coisa banal, capaz de ser servido em qualquer outro sitio que não no Noélia e Jerónimo, onde tantos pratos que passam parecem ter um cuidado de artista no empratamento.

Mas o pior estava para chegar, o bife de atum braseado.

Quando temos termo de comparação e a fasquia é alta é normal que o que quer que venham em segundo dê azo a emoções fortes. Se a experiência for superior é de elevar a chef aos píncaros, que se supera, que evolui. Por outro lado, se a experiência for mais fraca será sempre uma desilusão. Desta feita, a experiência foi mais fraca, muito mais fraca.

Há muito que aprendi que a desilusão pode ser uma coisa boa (terei lido Heidegger cedo demais?), o desfazer da ilusão, o clarear da ideia. Aquilo que revela a verdade. Pois se esta é a verdade, esta desilusão é das grandes.

Noélia e Jerónimo Bife de Atum Braseado
A dose de Bife de Atum Braseado que nos foi servido este ano

O que nos foi servido no fundo de um prato fundo não era um bife de atum. Eram pedaços de atum, cortados sem forma, de pontas de posta, cobertos de nervo. O bom atum do ano passado em nada se compara a este. Nem na forma, nem na textura e confesso, nem no sabor. E se ao Miguel Esteves Cardoso, também presente esta noite neste que considera “o melhor restaurante de sempre“, a Noélia “avisa logo se o atum é sublime (desviado dos japoneses que o pagam a 100 euros o quilo) ou meramente muito bom“, ao que parece, aos restantes Clientes essa nota passa ao lado. Tivesse eu sabido que não teria um bife de atum mas sim os tais pedaços unidos por nervo e certamente teria pedido outro prato.

Noélia e Jerónimo Atum Braseado
O Atum Braseado que nos foi servido o ano passado

Mas a coisa não ficou por ali. Na mesa ao fundo da sala estava o Jorge Palma e tudo o que me vinha à cabeça ao olhar para o “Arroz de Gengibre com Manga” era “deixa-me rir…. O prato de arroz que acompanhava o atum era uma daquelas visões que nos fazem pensar se nos enganámos na porta. De repente, estamos num daqueles cafés da baixa lisboeta onde se serve bitoque atrás de bitoque, sem cheiro, sem sabor e onde a única cor é dada pelas falripas de cenoura em cima da forma de arroz branco de hospital. Quase. Tinha cheiro e sabor, a queimado, das amêndoas que torraram demais. E tinha cor, dada pelos parcos pedaços de manga mole e sem graça que trazia no topo. De resto, estava espapaçado e insosso, como o tal arroz de hospital. Não o comemos.

Noélia e Jerónimo Arroz de Gengibre e Manga
Arroz de gengibre e Manga. Sim, os pontos pretos são amêndoas queimadas

Claro que chamámos o Francisco e que lhe explicámos a situação. O bife de atum que não era bife, o arroz que estava intragável, o Noélia e Jerónimo que não tinha nada a ver com o Noélia e Jerónimo do ano passado. De imediato nos disse que ia passar a informação à Chef. Acredito que a tenha passado. Mas acredito porque esta noite decidi ser boa pessoa e acreditar que os outros também podem ser boas pessoas. Só por isso, não porque tivesse qualquer palavra de atenção.

Salvou-se a noite pelo bife de vaca que a Patrícia comeu e que, ao que parece e ela conta, estava mesmo muito bom e pela garrafa de Crasto 2015 que bebemos mas sinceramente, pelos 80 euros que pagámos, esperávamos no mínimo algo como o que tivemos no ano passado. Nem de perto nem de longe.

O Noélia e Jerónimo foi uma desilusão. Das grandes. E por mais que o Heidegger me diga que a desilusão é uma coisa boa, esta não é boa para ninguém. Não é para mim e para a Susana que deixámos de ir a outros sítios que gostamos para ir ao Noélia e Jerónimo e viemos de lá insatisfeitos e não é para o Noélia e Jerónimo que deixam de ter a nossa visita e recomendação. Se lhes faz mossa? Talvez não mas não será por isso que deixo de escrever.

p.s. Diz o meu amigo Artur Ventura que eu só escrevo quando me pisam os calos ou quando me chateio num restaurante. Não é bem assim mas admito que este foi um daqueles casos que não podia deixar para amanhã.

O bacalhau estava no ponto. E infelizmente, as coisas boas a dizer do food corner do Chef Alexandre Silva no Mercado da Ribeira ficam por ai.

Acredito que outras pessoas tenham outras experiências. Acredito até, que numa outra visita possamos ter uma experiência diferente. Infelizmente, a visita que fizemos aos espaço do Chef Alexandre Silva este fim-de-semana, foi mesmo assim, menos boa.

Da ultima vez que tinhamos passado pelo Mercado da Ribeira para almoçar, chamou-nos a atenção a carta do espaço do Chef Alexandre Silva. Ainda que os pratos de carne se apresentassem com nomes particularmente atractivos (Barriga de Porco confitada, Hamburguesa de Boi ou Foccacia de Secretos), era por peixe que procurávamos nessa tarde e, coisas como Pica-Pau de Atum ou Bacalhau Confitado pareceram-nos boas apostas. Infelizmente, o Pica-Pau tinha acabado e isso desmotivou a estadia. Ficaria para uma próxima.

Regresso ao spot do Chef Alexandre Silva

E a próxima foi agora. Uma vez mais no Mercado da Praça da Ribeira para almoçar. Lá fora um calor infernal, lá dentro… Bem, se o Inferno (como dizia o Dante) tem sete níveis, digamos que estávamos no terceiro (ainda que não houvesse neve negra).

Mercado da Ribeira Pedro Rebelo

Depois da aventura que foi arranjar espaço para sentar (e sim, nós sabemos que a regra é primeiro ir buscar a comida e depois encontrar lugar mas convenhamos, isso resulta na maior parte das vezes em infindáveis minutos vagueando pelo recinto de tabuleiro na mão com todos os riscos que tal acarreta), lá fomos até ao espaço do Chef Alexandre Silva e, mantendo a carta a mesma oferta, foi simples a escolha: Bacalhau Confitado, salteado de broa, batatinhas, chouriço e azeite de trufa e, Pica-Pau de Atum, batata doce assada com mel e kimchi.

O tempo de espera não foi muito e isso poderia ser um ponto a favor mas, desculpem-me os menos críticos, vou ficar-me pelo elogio inicial: o bacalhau estava no ponto.

Os pratos do Chef Alexandre Silva

Se é certo que o bacalhau estava cozinhado no ponto, o mesmo não poderemos dizer das “batatinhas”. Aliás, como disse a Susana, dificilmente identificaríamos as “batatinhas” se não soubéssemos do que se tratava. Minúsculos cubos, quase cabendo entre os dentes do garfo, uns aparentemente salteados, outros literalmente crus. A broa, que deveria vir salteada, não a chegamos a ver ainda que acreditamos ser a base do caldo em que o bacalhau vinha a “nadar”. Sem um sabor distinto, uma base farinhenta que de tão fina não se conseguia “apanhar” com o garfo. Teria eventualmente um qualquer sentido se, pelo sabor adicionasse algo aos restantes elementos do prato mas nem por isso.

Bacalhau Chef Alexandre Silva Pedro Rebelo

Contrariamente ao caldo, já o chouriço, igualmente cortado em cubos diminutos, era de tão forte sabor que, mesmo não estando presente na garfada, facilmente fazia olvidar qualquer outro sabor do prato. Bacalhau? Estava no ponto. Sabor? Sabia a chouriço.

Veio depois o Pica-Pau de Atum e, sendo certo que não há tanto a apontar, é também certo que não havia muito por onde o fazer. Cubos de atum, ligeiramente (muito ligeiramente) braseados, parcos pedaços de batata doce assada e umas quantas folhas de rúcula pingadas, muito ao de leve, a mel.

Atum Chef Alexandre Silva Pedro Rebelo

Não digo que soltassem a fúria das sementes de sésamo ou papoila sobre o atum mas, sendo o braseado tão fraco, os pequenos pedaços de peixe pecavam por falta de textura sendo  a existente era um pouco bacenta e faltando algo de crocante que um toque mais de brasa lhe poderia dar.

Resumindo um desabafo que já vai longo, não ficámos convencidos. Aliás, nada convencidos. Acredito que noutro forum os pratos do Chef Alexandre Silva possam ter outro brilho, outro sabor mas, no seu espaço do Mercado da Ribeira, não nos vejo a repetir a experiência.

Um destes dias, fiz o upload de uma fotografia para várias redes sociais acompanhando-a de uma legenda: “É decadente… Literalmente… Como se quer. Foi uma surpresa…“. Entenda-se antes demais que eu gosto particularmente do termo decadente. Associo-o ao movimento artístico e literário do séc. XIX. Associo-o a Oscar Wilde e a Charles Baudelaire… “Decadente, como se quer” é certamente, vindo de mim, coisa boa.

E coisa boa era efectivamente aquilo que nos esperava no restaurante The Decadente.

Depois de uns minutos de fim de tarde passados num banco de jardim ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, eis que chegava a hora da surpresa que a Susana tinha preparado. Jantar. Só não sabia onde. Virar costas à paisagem, atravessar a rua que partilha o nome com o miradouro e chegar ás portas de um palacete, que no inicio do século passado terá sido construído para ser a residência oficial de um embaixador. Percebe-se a nobreza do edifício, e dificilmente se passará por ele sem o notar. É aqui que se encontra um dos mais recentes hostels de Lisboa, o The Independent. Portas passadas, virar à esquerda. é por aqui a entrada para o The Decadente.

Um bar, balcão de bancos altos, que por pequeno que pareça deixa alas abertas para as salas que se seguem. Dois copos de um fresco Rosé, sugestão da casa, que os jantares só se servem das 20 às 22 e das 22 em diante. Uns minutos de relaxe, copo na mão, apreciamos os espaço e a decoração que de alguma forma nos chamava à tal decadência que referi anteriormente. Como se quer.

Uns minutos depois é-nos proposta a passagem à sala de refeição. Seguimos o chefe de sala e ocupamos a primeira mesa. Em frente há também um pátio de mesas postas. Em breve estará cheio. Ficará para outra visita. O chefe de sala passa-nos ao Felipe, que acompanhará a nossa mesa e educadamente de dispõe a esclarecer qualquer duvida sobre a ementa que deixa na mesa. E começa a escolha.

O pica pau do The Decadente

As entradas no The Decadente são chamadas de “Conversas do Miradouro”.

A oferta é larga entre cremes de legumes, uma salada, dois carpaccios, camarões e a nossa escolha: “The Pica-Pau”. Pequenos pedaços fatiados de carne de novilho, cozinhados ao ponto com alho e mostarda antiga. A acompanhar, pedaços de pão bem fresco que pediam para ser banhados no molho. Bom, muito bom. Carne macia, dose certa para entrada. Venha então o resto.

Um prato de peixe vinha a calhar numa noite como aquela. “Há mar e mar, há ir e voltar” sugere 5 pratos vindos da agua. Um deles chamou à atenção pela ousadia: “Peixe da noite”. Lombo do peixe do dia em sautée, batata migada com alho e coentros e couve pak choy grelhada.

Talvez nem todos os peixes do dia sejam a melhor opção para um sautée mas ainda assim, resolvemos arriscar. Pampo. Excelente. Sendo um peixe de carne branca e firme, permite-se ao salteio sem grande risco.

Peixe da noite no The Decadente

Bem apresentado, a posta em bom tamanho não desiludiu. Na batata, saborosa, o que nem sempre se prova, o alho estava suave e o coentro dava um toque de cor. A couve, não tendo um “aperto” suave antes da grelha, pedia só menos um ou outro talo um pouco mais rijo. Ainda assim, rica de sabor, acompanhava perfeitamente.

Satisfeitos, e sempre acompanhados pelo serviço irrepreensível, passamos então ao prato de carne.

“Do interior para a cidade” é a lista de escolhas do restaurante.

Entre costeletas, bifes e bochechas, optámos pelo “Confit no Pato”. Perna de pato confitada com couscous de cogumelos Portobello e salsa, molho de soja e chalotas caramelizadas com laranja e tomilho.

Pato Confit do The Decadente

Pato confitado é outra escolha ousada. Horas de cozedura antecedidas de horas de preparação. Veio a rigor.

Muito bem apresentada, veio a perna do pato, brilhante e bem guarnecida de molho, encorpado quanto baste com um agridoce entre o salgado do molho de soja e o doce da laranja. As chalotas caramelizadas contribuíam para maior doçura. Os couscous, que admito até à data não ser grande apreciador, encantaram também. Muito além da tipíca cozedura, os pequenos grãos de massa estavam num ponto certo de secura onde os cogumelos e a salsa combinavam maravilhosamente. Quanto à carne, irrepreensível. Saborosa, a soltar os nacos sem perder a forma.

Era de pedir a sobremesa. Havia também boa escolha entre tartes, bolos e fruta mas a nossa recaiu sobre “De Seia para Lisboa”, um cheesecake de queijo de Seia e compota caseira de tomate. E que boa foi a nossa escolha.

O Cheesecake do The Decadente

Uma base do conhecido Cheesecake, sem demasiada humidade, crocante e apelando à ideia de biscoito, coberta por uma boa fatia de queijo de Seia e depois regada com uma geleia de tomate que pelo pouco doce e acertada dose de canela, combinava perfeitamente com tudo o resto. Excelente.

De beber, foi escolhido um Douro Vinha do Bispado. Um tinto de aroma adocicado, de vermelho transparente e com um final fumado e muito agradável. Também aqui a satisfação foi de monta.

Faltava a prova de fogo. O garoto clarinho que certamente já aterroriza algumas casas de Lisboa. O pedido é claro. Um café e um garoto clarinho. Leite quente com uma só gota de café. Veio e falhou. Um pouco mais escuro do que o esperado. Nem isso nos desanimou. Coisa que nem sempre vejo nestas situações, a Susana com um sorriso, pede que nos tragam outro, ou até só leite. Uma vez mais, com a simpatia que marcou a sua presença durante o jantar, o Felipe pede que lhe seja dada outra oportunidade. Trará mais um garoto. Veio perfeito.

Decadente. Como se quer.

Em casa cheia e onde nem por isso nos sentimos apertados, a gestão de reservas parece funcionar ao mais pequeno detalhe. Em pé só quem está a ser encaminhado para a mesa. Os tempos perfeitos levam a refeição a durar até ao próximo turno e nem se dá por isso. Numa noite como só em Lisboa, que chamava a ser vivida, a experiência que vivemos no The Decadente foi fantástica. A repetir certamente.

Restaurante The Decadente
Tipo de cozinha: Portuguesa Contemporânea
Horário: Das 12:00 às 15:00 ao almoço e das 20h00 às 24:00 para jantar.
Preço médio: 25€
Morada: Rua de São Pedro de Alcântara, 81
1250-238 LISBOA
Telefone: +351 213 461 381
Site: http://thedecadente.pt/

Quantos de entre os visitantes habituais do browserd.com me perguntaram já pelas reviews de restaurantes deste ano? Ora aqui fica uma em jeito de bom começo. E que bom digo eu. Leiam e digam se concordam.

O Limoncello é um pequeno restaurante na Rua Nova do trindade, mesmo frente à porta principal do teatro. Só pela localização já se poderia fazer um bom agoiro.

Restaurante LimoncelloNuma zona nobre da cidade, ponto de referência de locais e estrangeiros, o Limoncello ainda assim corre o risco de passar despercebido. E isso não é obrigatoriamente uma coisa má. Se ficar casa para connoisseurs, no sentido de quem aprecia as coisas boas a preço justo, terá garantidamente clientela para o manter e com um sorriso nos lábios dos seus proprietários. Adiante.

Tínhamos mesa marcada para as 20. Chegámos à hora e fomos levados ao andar de cima. Sala curta junto à cozinha, bem arejada e iluminada graças às janelas que tomam toda a parede deixando ver a rua e quem passa… Também marca pontos com isso.

O que se vê é o esperado num restaurante de comida italiana. Da cadeira tradicional ao individual de ráfia que faz a vez da já mui batida toalha aos quadrados. Uns nichos iluminados nas paredes ajudam a compor um ambiente ao mesmo tempo mais requintado e caloroso dando ao espaço as cores que se querem ao jantar.

Chegados todos quantos iríamos comer, à mesa vem de imediato o azeite pingado a vinagre tinto, uma pasta (Seria de atum? Estava boa, foi toda) e umas azeitonas verdes. Tudo a seu tempo, somos então a escolher de entre uma larga lista (à primeira vista não esperaríamos tanta diversidade) que ia das tradicionais pizzas às carnes, passando pelas pastas e risottos. Felizmente não se deixou levar pela moda de dar aos pratos nomes com 4 parágrafos e 12 linhas… Teriamos frente a nós uma verdadeira lista telefónica… Das antigas.

Spaghetti Nero Quattro Formaggi no LimoncelloEscolhemos entre todos, 3 risottos distintos (de camarão, de cogumelos e vegetariano) e uma pasta, Spaghetti Nero Quattro Formaggi. Tendo optado por este ultimo prato, fiquei a pensar se teria sido a escolha correcta uma vez que grande parte das minhas experiências com “quattro formaggi” são decepcionantes, principalmente pela falta de equilíbrio nos queijos utilizados o que acaba por resultar em pratos demasiadamente fortes e enjoativos. Não foi o caso no Limoncello.

As doses muito bem servidas, pela quantidade e pela aparência, encantavam logo ao chegar. O Spaghetti Nero Quattro Formaggi cheirava verdadeiramente a queijo mas não denotando primazia de um deles, o que a mim muito me agradou. Estava perfeito também no sabor e na textura. Al dente como se quer o que, nas pastas negras nem sempre é facil de conseguir.

O risotto de camarão que provei estava igualmente delicioso. O arroz no ponto e o marisco sem ser regateado fizeram do prato outra das estrelas da noite. Sem provar mas ficando a nota de ouvido, o risotto vegetariano e o de cogumelos estavam, diz quem os comeu, também muito bons.

A refeição foi acompanhada com um Dão Tinto Casa de Santar 2008 que, como de costume, correspondeu às expectativas.

Durante o repasto, o acompanhamento da sala foi excelente, sem ser intrusivo ou maçador, ficamos com a sensação de que, se fosse necessário algo, estava ali alguém para ajudar.

sobremesas no limoncelloChegada a hora das sobremesas, imperava a indecisão. A sugestão da casa foi pronta e aceite de imediato: Um prato com algumas das especialidades caseiras ali servidas: Mousse de Chocolate, Pannacotta, Pudim de ovos e  o já clássico Tiramisu. De apresentação original, as sobremesas estavam ao nível dos pratos principais, todas muito boas. Ainda que o Tiramisu não fosse o doce favorito de nenhum dos presentes, serviu o prato para escolher o favorito de cada um, que fica como nota para próximas visitas. Por mim, a Mousse ou a Pannacotta são as eleitas.

Como na mesa havia quem não tolerasse o açúcar, adequa-se a oferta da casa ao gosto do Cliente e, veio à mesa uma manga fatiada que, sendo servida normalmente com um pó de açúcar, desta feita veio só.

Não havia o que não gostar no Limoncello.

Entre uns dedos de agradável conversa com o dono da casa, fomos presentados à mesa com um cálice de Limoncello e uma grappa para outros gostos, antes da chegada dos cafés. O já famoso “garoto clarinho” não veio tão “clarinho” como desejado mas, a prontidão para trazer um mais claro foi grande e imediata e uma coisa compensa a outra.

Concluindo, e da forma como comecei, numa apreciação global do Limoncello: Muito bom. A voltar em breve e, garantidamente, mais do que uma vez.

Restaurante Limoncello
http://www.limoncello-chiado.com
Tipo de cozinha: Italiana
Horário: Das 12:00 às 15:00 ao almoço e das 19h30 às 24:00 para jantar.
Preço médio: 20€
Morada:Rua Nova da Trindade nº 10 C
Telefone: +351 21 346 25 75
Pagamento: Numerário / Cartões

Eu por norma não sou de fazer grandes alaridos (pelo menos por aqui) sobre refeições que não tenham corrido bem. Sei que quem cá vem ler sobre restaurantes procura boas dicas, bons sítios para comer e beber. Pelo que tenho visto nas estatísticas do site, procuram restaurantes baratos para almoçar, restaurantes bons para jantar, uma esplanada para beber um copo e muitas vezes, um restaurante para um jantar de amigos ou jantar de aniversário. Ora, se eu só falasse mal, decerto aqui não encontrariam o que procuram. Falo bem, do que acho bem, encontram o que procuram, e ficamos todos satisfeitos…

E que raio tem isto que ver com Koni?

Não é segredo que sou apreciador da cultura japonesa e em particular, da sua gastronomia. Ainda que sabendo ser o consumo de Sushi uma moda cá por terras lusas, há já muito que aderi à mesma. No entanto, a ideia do bom Sushi está muito associada à ideia do bom restaurante japonês, logo, o caro restaurante japonês. Comer Sushi noutros países que não Portugal mostrou-me que, no que se refere à fast food, também os japoneses podem dar cartas e que o Sushi em pequenas casas, com o Sushimaster de um lado do balcão e o Cliente do outro, pode ser igualmente bom. E isso dá muito jeito nos dias que correm em que tantas vezes não há tempo para uma refeição mais demorada ou quando simplesmente não apetece «enfardar» um cozidinho à hora de almoço.

O aparecimento de pequenas casas de Sushi como a Koni Store serão assim bem vinda pois está claro.

Especializando-se em temakis (cones com cerca de 10 a 12 centímetros, feitos com nori – a folha de alga – a enrolar o conteúdo, tradicionalmente arroz e peixe), abriu recentemente em Lisboa a Koni Store, que segundo consta é a mais famosa casa do género no Brasil. Infelizmente, esse titulo não me pareceu ser garante do que quer que fosse.

O espaço, na Rua da Trindade, é pequeno para aquilo a que se propõe. Se quer ter mesas para que as pessoas se sentem, há que garantir condições para tal. A 3 cadeiras por mesa, ainda assim, para me levantar de uma tenho que afastar outras duas… Não me parece. Talvez mudar as cadeiras? Menos design e mais funcionalidade… O resto do conjunto também não me impressionou. O balcão é alto não deixando ver o que se passa do lado de lá (ou quem lá estava era mesmo muito baixo) e a vitrina da frente é curta para ver o além que diz mostrar…

O serviço foi muito rápido e sem duvida atencioso. Bem recebidos, atendidos, tudo como deve de ser. Simpatia e educação. O pior foi o resto.

Pedimos 4 temakis. Hot Filadefia (salmão, queijo filadelfia, cebolinho envolto em tempura), Salmão Skin (pele de salmão grelhada, cebolinho, sésamo e molho teriyaki – molho de soja e vinho de arroz), Roast tuna (atum crocante com molho teriyaki) e Steel Camarão (salmão e camarão). Começando pelo principio que é sempre um bom começo. A folha de Nori estava seca e rija. Muito seca e muito rija. A ideia é que a folha se sinta, mas mais como a folha de hóstia que envolve um doce de Aveiro, que se trinca e se separa. Ali, à navalha não sei se teria sorte… O arroz colava. O arroz do Sushi tem uma goma diferente e com o açúcar, o vinagre e por vezes, o aji-no-moto, pode ficar a colar de mais mas ainda assim, ali colava em exagero. A pele de salmão mal se sentia tal o tratamento que levou. O camarão, se não era congelado, as minhas sinceras desculpas, mas era mesmo a congelado que sabia. Aliás, para o fresco que estava, ou era congelado ou a casa tem que acertar as temperaturas do frigorífico. O salmão foi outra decepção (sim, eu sei que rimou). Sem qualquer sabor, sem corte definido…

Resumindo, não gostámos. Ainda que, como atrás referi, a simpatia e o serviço sejam claramente um trunfo da casa, a Koni Store da Trindade não nos convenceu.