Ora bem, nada de outro mundo. Nenhuma dissertação sobre o significado da amizade ou sobre o que são bons amigos. Primeiro porque amigos, tal como amizade, é só por si, um termo muito, muito subjectivo. Depois porque bons amigos é, por razões claras, forma de subjectivar ainda mais o termo.

Assim sendo, e porque é mesmo de bons amigos que vos quero falar, conto-vos um pequeno episódio. Para que este tenha algum sentido, há que deixar claro que não gosto de futebol, não conduzo, sou casado, pai de uma filha e, como diz um dos meus bons amigos (aliás, dizem uns quantos), um homem sério.

Pedro Rebelo, bons amigos e bons almoços
Quando falo da comida? Lá mais embaixo. Continuem a ler…

Onde estão os bons amigos?

Do nada, uma destas manhãs, num daqueles espaços digitais tão comuns nos dias de hoje, onde amigos e conhecidos se encontram para conversar, pergunto (eu ou um dos presentes, já não estou certo mas para o caso é irrelevante) se temos almoço, que é como quem diz, “então, almoçamos hoje?”. A resposta não se fez esperar e como de costume, veio no sentido de um valoroso “só falta decidir onde”.

Sobre o local onde se daria o repasto também não houve grande conversa. Entre todos, sabemos bem o que cada um mais aprecia e os apetites, normalmente, são expressos logo pela manhã cedo.

O encontro está marcado para certa hora, numa recôndita viela, para onde cada um de nós se dirige, dos vários cantos da cidade. O sitio é concorrido, muito concorrido ao que parece. É famoso pelas doses e aparentemente a fama vai além das lusas paragens. São mais que muitos lá dentro e outros tantos que se vão juntando à porta. Esperamos também, colocamos a conversa em dia, como se não tivéssemos conversado toda a manhã, e na manhã anterior, e outra e outra…

Mas isto é algo que fazemos com amigos certo? Conversamos frente a um bom prato de comida, com um copo de vinho na mão ou enquanto esperamos que cheguem. A comida, o vinho ou os amigos que tendem a chegar atrasados.

Mas e então, e com os bons amigos? Qual é a diferença?

Vá lá, ainda estão a bater nessa tecla? Os amigos são bons. Sempre. Não há maus amigos. É como os cumprimentos que desejamos no fim de cada missiva. “Ah e tal, com os meus melhores cumprimentos…”. Certo. Então e se não forem os melhores serão quais? Os piores? Ou só os cumprimentos, que não sendo tão bons como os melhores serão, bem, aceitáveis?

Mas aos meus amigos, como não chamar de bons amigos, aliás, dos melhores que pode haver entre essa estranha categoria de conhecidos a que chamamos de amigos?

Sim é certo que com eles já dei por mim a a esperar que o tempo passe nas ruas da Vila de Sintra a meio da noite, a fotografar semáforos na Baixa de Lisboa, já me encontrei a declamar guiões de Star Wars improvisados com conteúdo menos próprio e personagens insólitas na madrugada de Cascais, já senti o vibrar dos trilhos do eléctrico na minha orelha ao raiar do dia no Terreiro do Paço, já fiz uma série de coisas…

E neste almoço, saído do nada, de bacalhau com grão e carne com batatas fritas, regado com O Tal Vinho da Lixa (sim, é mesmo assim que se chama o vinho), fomos de Noam Chomsky ao Michel Foucault, passámos pelo pêndulo do dito é claro, e visitámos o Slavoj Žižek. Quando chegámos à Paz de Westfália pensámos que a coisa não passaria dali… O que haveria ainda de passar.

Falámos do Hitler (convenhamos, a Lei de Godwin diz que íamos lá parar de certeza, mais ainda considerando o tempo que estivemos à espera) e das eleições legislativas. Discutimos o estatuto de arguido e as medidas cautelares anteriores ao trânsito em julgado, assim como até onde estas poderiam interferir com a presunção de inocência. Falámos dos refugiados, dos nossos e dos outros. Falámos até de como nós, de quando em vez, nos refugiamos, assim, ao almoço.

E a sorte, garanto-vos, a sorte de alguém que nos estivesse a ouvir, chegou com a hora de voltar ao trabalho.

A certa altura, entre o folhado de doce de ovos e o leite creme queimado ao momento (tal qual cena digna de um qualquer filme sobre a guerra do Vietname), nada mais me restou dizer para além de “que orgulho e gosto tenho, em ter tão bons amigos“. Ainda deu para mais um brinde, aos amigos. Que nunca nos faltem, que nunca desapareçam das nossas vidas, nem dos nossos almoços que, vidas à parte, são também muito importantes.

Este post é para vocês amigos, aqueles que estiveram neste almoço e todos os outros que tantas vezes comigo se sentaram à mesa.

Estávamos em 1991. Sim, alguns de vós, meus colegas de faculdade que por aqui passam, ainda não tinham nascido. Como escrevia, estávamos em 1991 quando me cruzei com Heidegger pela primeira vez. Entra pela sala de aula adentro (com óbvia permissão da Sra. Professora Isabel Freitas pois seria impensável alguém entrar numa sala de aula dela sem a sua permissão) uma criatura, que não me lembrando do nome, me causou uma daquelas sensações de estranheza inexplicáveis.

O jovem aluno de Filosofia que nos vinha falar de Heidegger carregava o semblante amorfo de alguém a quem as drogas tinham claramente causado algum dano psicológico.

Não as drogas que ele tivesse experimentado – não precisava, era aluno de Filosofia – mas sim as que os pais ou talvez até os avós, tinham certamente consumido em excesso. Foi o que pensei… E ainda ele não tinha começado a falar…

O tema que na altura nos ocupou as horas seguintes foi a Desilusão de Heidegger. Lembro-me como se fosse hoje, a forma como nos foi explicado que a desilusão seria uma coisa boa, seria, ao contrário do que o senso comum e a aculturação nos ensina, o fim da ilusão, logo, o encontro da verdade, logo uma coisa boa. Conseguem certamente imaginar, não só a boa impressão com que fiquei de Heidegger, mas também, a quantidade de vezes que nos últimos 20 anos usei esta referência…

Eis que chega 2010. Chega também Arte e Comunicação, uma cadeira da opção de Comunicação Cultura e Artes do curso de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Dizem que quem corre por gosto não cansa. Há ditados parvos, parvos, parvos.. Chega Heidegger e «The Question Concerning Technology».

A prata é aquilo de que é feito um cálice de prata. Enquanto uma matéria determinada, a prata responde pelo cálice. Este deve à prata aquilo de que consta e é feito. O utensílio sacrificial não se deve, porém, apenas à prata. No cálice, o que se deve à prata aparece na figura de cálice e não de um broche ou anel. O utensílio do sacrifício deve também o que é ao perfil de cálice. Tanto a prata, em que entra o perfil do cálice, como o perfil, em que a prata aparece, respondem, cada uma, a seu modo, pelo utensílio do sacrifício.

Temo agora, e eu não sou de grandes temores (ainda hoje não estou certo de que o ser humano seja na sua essência uma criatura de bem), que alguém ao olhar para mim, ponha em causa a sobriedade dos meus pais ou avós. Fica a declaração de que, tanto quanto sei, não eram dados a cenas ilegais e nunca participaram em testes para farmacêuticas…

Não fosse o facto de as bruxas em Portugal serem sempre associadas à imagem de velhas feias e com verrugas no nariz (vinde a mim ó mitologia Celta), seria certamente de pensar numa visita a tais criaturas… Ao fim e ao cabo, como diria o outro, não há nada que não me aconteça…

Ora que foi a história da malfadada dor no braço que não só não passou como tem feito questão de se manifestar de forma mais vincada nestes últimos dias. A mais recente visita ao médico (ontem) aponta para uma operação e fisioterapia… Coisa pouca. A ver vamos o que diz o ortopedista especialista do ombro. Assim que tenha tempo para o visitar.


Entretanto, ainda a semana passada estava no inicio e a Patrícia apanhou uma gastroenterite. Medicamentos para cima e para baixo, diarreias e dores de estômago, febres e dores de cabeça. Para ela e para nós. Estava esta a curar-se e, pimba, aparentemente, um pico de gripe. Febres altas no fim-de-semana, muita tosse e mimos à mistura…

Eis que chega a nova semana. A Segunda-feira corre de feição. Bem, trabalhei até às 10 da noite porque aquilo por lá aperta mas, cheguei a casa e a pequena estava em paz, pronta para ir para cama, só à espera da estória que o pai lhe ia contar…

Terça-feira começa a ser um dia estranho. A meio da tarde chega o telefonema. Para ir buscar a Patrícia ao colégio que, entre muito choro lá perceberam que lhe doí muito um ouvido e já está cheia de febre. Conselho: levar a miúda ao hospital.

Duas horas no hospital do SAMS. Ao inicio, ainda sobre o efeito do Ben-u-ron que lhe deram no colégio, a coisa corria bem. Foi à triagem e pouco depois, vista pela médica, nem se queixava. Mas a médica não gostou muito do que lhe terá visto na garganta e pediu que lhe fizessem uma análise. Na meia-hora de espera pelo resultado, eis que regressa a dor e, tudo quanto era gente naquela pediatria ficou a saber qual o timbre da miúda…

Antibióticos (pela 2ª vez em 5 anos), mais Brufen, Ben-u-ron e umas quantas gotas, volta para casa sem se saber bem o que tem. Uma possível otite que a médica não conseguiu confirmar e uma garganta muito inflamada que diz a referida médica, dará que falar amanhã. Mais uma vez, a ver vamos como amanhece.

No meio de tudo isto, tenho um trabalho do banco para acabar (tem que estar pronto logo pela manhã) e, a grande preocupação da noite, porque nem seria noite se eu fosse dormir descansadinho: Ensaio de 3 páginas para a cadeira de Filosofia da Comunicação, a entregar amanhã.

Caro professor Luiz Carlos Baptista, juro-lhe que não é nada pessoal. Sou até capaz de lhe garantir que tenho uma vontade enorme de prestar mais atenção às suas aulas mas, sobre o ensaio, até à data, nada. Nicles. Népia. Niente. Nadica de nada. O tema já o escolhi: A teoria dos mundos possíveis. Dai para a frente? Bem, espero que esta noite passe algum desfile interessante no Fashion TV de forma a justificar o que por ai se diz de mim (vide bio no Twitter)… Quem diz Foucault, diz Kripke.