O bacalhau estava no ponto. E infelizmente, as coisas boas a dizer do food corner do Chef Alexandre Silva no Mercado da Ribeira ficam por ai.

Acredito que outras pessoas tenham outras experiências. Acredito até, que numa outra visita possamos ter uma experiência diferente. Infelizmente, a visita que fizemos aos espaço do Chef Alexandre Silva este fim-de-semana, foi mesmo assim, menos boa.

Da ultima vez que tinhamos passado pelo Mercado da Ribeira para almoçar, chamou-nos a atenção a carta do espaço do Chef Alexandre Silva. Ainda que os pratos de carne se apresentassem com nomes particularmente atractivos (Barriga de Porco confitada, Hamburguesa de Boi ou Foccacia de Secretos), era por peixe que procurávamos nessa tarde e, coisas como Pica-Pau de Atum ou Bacalhau Confitado pareceram-nos boas apostas. Infelizmente, o Pica-Pau tinha acabado e isso desmotivou a estadia. Ficaria para uma próxima.

Regresso ao spot do Chef Alexandre Silva

E a próxima foi agora. Uma vez mais no Mercado da Praça da Ribeira para almoçar. Lá fora um calor infernal, lá dentro… Bem, se o Inferno (como dizia o Dante) tem sete níveis, digamos que estávamos no terceiro (ainda que não houvesse neve negra).

Mercado da Ribeira Pedro Rebelo

Depois da aventura que foi arranjar espaço para sentar (e sim, nós sabemos que a regra é primeiro ir buscar a comida e depois encontrar lugar mas convenhamos, isso resulta na maior parte das vezes em infindáveis minutos vagueando pelo recinto de tabuleiro na mão com todos os riscos que tal acarreta), lá fomos até ao espaço do Chef Alexandre Silva e, mantendo a carta a mesma oferta, foi simples a escolha: Bacalhau Confitado, salteado de broa, batatinhas, chouriço e azeite de trufa e, Pica-Pau de Atum, batata doce assada com mel e kimchi.

O tempo de espera não foi muito e isso poderia ser um ponto a favor mas, desculpem-me os menos críticos, vou ficar-me pelo elogio inicial: o bacalhau estava no ponto.

Os pratos do Chef Alexandre Silva

Se é certo que o bacalhau estava cozinhado no ponto, o mesmo não poderemos dizer das “batatinhas”. Aliás, como disse a Susana, dificilmente identificaríamos as “batatinhas” se não soubéssemos do que se tratava. Minúsculos cubos, quase cabendo entre os dentes do garfo, uns aparentemente salteados, outros literalmente crus. A broa, que deveria vir salteada, não a chegamos a ver ainda que acreditamos ser a base do caldo em que o bacalhau vinha a “nadar”. Sem um sabor distinto, uma base farinhenta que de tão fina não se conseguia “apanhar” com o garfo. Teria eventualmente um qualquer sentido se, pelo sabor adicionasse algo aos restantes elementos do prato mas nem por isso.

Bacalhau Chef Alexandre Silva Pedro Rebelo

Contrariamente ao caldo, já o chouriço, igualmente cortado em cubos diminutos, era de tão forte sabor que, mesmo não estando presente na garfada, facilmente fazia olvidar qualquer outro sabor do prato. Bacalhau? Estava no ponto. Sabor? Sabia a chouriço.

Veio depois o Pica-Pau de Atum e, sendo certo que não há tanto a apontar, é também certo que não havia muito por onde o fazer. Cubos de atum, ligeiramente (muito ligeiramente) braseados, parcos pedaços de batata doce assada e umas quantas folhas de rúcula pingadas, muito ao de leve, a mel.

Atum Chef Alexandre Silva Pedro Rebelo

Não digo que soltassem a fúria das sementes de sésamo ou papoila sobre o atum mas, sendo o braseado tão fraco, os pequenos pedaços de peixe pecavam por falta de textura sendo  a existente era um pouco bacenta e faltando algo de crocante que um toque mais de brasa lhe poderia dar.

Resumindo um desabafo que já vai longo, não ficámos convencidos. Aliás, nada convencidos. Acredito que noutro forum os pratos do Chef Alexandre Silva possam ter outro brilho, outro sabor mas, no seu espaço do Mercado da Ribeira, não nos vejo a repetir a experiência.

Um bom jantar é algo de que todos gostamos. Se pudermos ter um jantar bom e barato, bem, pelo menos que não seja muito caro, ainda gostamos mais. Assim, hoje resolvi mostrar-vos um bom jantar, não muito caro, relativamente fácil de fazer e que em pouco mais de uma hora está pronto.

Lombinhos de porco no forno com espargos verdes “enpankados”.

Lombinhos de Porco no Forno com Espargos Enpankados

Começando por esclarecer: Espargos “enpankados” são espargos verdes no forno envolvidos em Panko, o agora famoso pão ralado japonês. O Panko difere do nosso conhecido pão ralado essencialmente no tamanho e textura sendo que enquanto o “nosso” pão ralado é mais fino e conseguido a partir do pão comum, o Panko tem migalhas maiores, mais secas e mais leves, sendo conseguido a partir de pão sem côdea (pelo menos o Panko claro, mais comum). Então, para conseguir os espargos “enpakados” precisamos de:

  • Espargos verdes frescos
  • Um ovo
  • Uma colher de sopa de mostarda Dijon
  • Uma colher de sopa de maionese
  • Uma colher de chá de pimentão doce fumado
  • Alguns grãos de pimenta da preta moidos
  • Uma caneca de Panko
  • Meia caneca de queijo parmesão ralado
  • Um pouco de sal
  • Azeite

Ingredientes para os Espargos Enpankados

Começamos por lavar e secar os espargos em agua corrente. Depois, retiramos a ponta do fundo do espargo. Para saber onde, basta forçar um pouco e onde ele quebrar é o sitio certo.

Num recipiente de tamanho suficiente para colocar os espargos abrimos o ovo e juntamos a mostarda Dijon, a maionese, um pouco de sal e batemos tudo. Num recipiente de igual tamanho juntamos e misturamos o Panko, o queijo parmesão, a pimenta preta e o pimentão doce fumado.

Preparamos ao mesmo tempo um tabuleiro de ir ao forno cobrindo-o com uma folha de papel vegetal.

Passamos cada um dos espargos no recipiente com o ovo de forma a que fique uniformemente molhado pelo preparado e, à medida que os vamos molhando, passamos de imediato para o recipiente com o Panko onde os vamos enrolar de forma a que fiquem bem envolvidos na mistura seca.

Espargos Enpankados - preparação Espargos Enpankados - preparação

Dispomos os espargos por cima do papel vegetal e reservamos pois só irão ao forno mais tarde.

Os lombinhos de porco no forno.

Bem, neste caso foi só um lombinho e não lombinhos mas, um lombinho chega perfeitamente para duas pessoas. A escolha da peça, lombinho em vez de lombo, deve-se ao facto do lombinho não ficar tão seco quanto o lombo, não exigindo assim recheio ou maior preocupação com o molho (ainda que o molho neste caso seja importante).

Depois de ligar o forno nos 180 graus para ir aquecendo precisamos de:

  • Um lombinho de porco (limpo das maiores gorduras)
  • Três colheres de sopa de mostarda Dijon
  • Duas colheres de sopa de mel
  • Uma colher de sopa de folhas de Alecrim fresco picado
  • Alguns grãos de pimenta da Jamaica moidos e alguns por moer.
  • Duas folhas de louro
  • Um pouco de sal
  • Azeite

Começamos por juntar numa tigela a mostarda Dijon, o mel, a pimenta da Jamaica, o sal e as folhas de Alecrim picadas. Misturamos tudo até ficar um creme quase liquido.

Num tabuleiro de ir ao forno espalhamos um pequeno fio de azeite e por cima colocamos o lombinho de porco inteiro. Despejamos a mistura que preparámos por cima do lombinho uniformemente e depois, com as mãos, massajamos toda a peça para nos certificarmos que toda a carne entrou em contacto com a mistura. Colocamos as duas folhas de louro sobre a carne e, com uma colher, regamos um pouco mais com o caldo que entretanto escorreu para o tabuleiro.

Lombinhos prontos a ir ao forno

Colocamos o tabuleiro a meio do forno já quente lá ficará inicialmente cerca de 35 a 40 minutos. Aos 15, abram o forno, puxem o tabuleiro e voltem a regar a carne com o molho.

Chegados aos 40 minutos de forno, abram-no e passem o tabuleiro para uma posição abaixo. Entretanto, vão buscar o tabuleiro dos espargos “enpankados” e passem por cima destes um fino fio de azeite. Isso irá ajudar a que fiquem mais dourados. Coloquem o tabuleiro dos espargos na posição em que se encontrava o tabuleiro do lombinho e fechem o forno deixando estar lá os dois tabuleiros por mais 15 minutos e depois desliguem.

Retirem o tabuleiro do lombinho do forno e deixem repousar 2 a 3 minutos antes de fatiar. Nessa altura, retirem também o tabuleiro dos espargos e sirvam.

Por cá, a coisa correu bem. Um jantar bom e barato. Bem, pelo menos, não muito caro.

Tártaro de atum. Porque sim. Lembrei-me disso um destes dias e não fui de modas. Manhã cedo, Mercado de Alvalade, um bom naco de atum vermelho, complementos, temperos, e de volta à cozinha.

Confesso que não sou muito dado a medidas exactas… Aliás, falta balança de cozinha cá em casa. Virá um dia certamente mas, enquanto vem e não vem, vai a olho.

Preparar o Tártaro de atum

Cortei cerca de 300 gramas de atum em finas fatias. A essas voltei a dar a faca afiada de forma a cortar estreitas tiras e por ultimo, picar em pequenos pedaços. Tudo para dentro de uma tigela.

Piquei também um pequeno molho de cebolinho, uma chalota, algumas alcaparras e misturei tudo com o atum. Entretanto já tinha acabado de cozer um ovo. Depois de frio, meio deste bem picado foi também para a mistura à qual juntei então um pouco de sal e pimenta preta.

Num toque à lá Tickets, o famoso restaurante de Ferran Adrià e do seu irmão Albert, resolvi incluir no meio do Tártaro uma camada de manga, igualmente picada à faca, dando um apontamento de cor mas, essencialmente, colocando o doce entre o sabor de mar do atum e o envinagrado das alcaparras.

Enformei sobre ardósia, cobri e levei ao frio durante duas horas.

Tártaro de Atum - Pedro Rebelo

Desenformei e complementei com um quarto de ovo cozido e cebolinho ao topo, acompanhado por pequenos tomates chucha com risco de Modena doce e maionese fresca.

O jantar foi tardio mas a espera valeu a pena.

Na calha fica já a ideia de um bife tártaro mas dessa feita, com um belo naco da vazia ou do lombo. A ver vamos quando virá.

 

Um destes dias, fiz o upload de uma fotografia para várias redes sociais acompanhando-a de uma legenda: “É decadente… Literalmente… Como se quer. Foi uma surpresa…“. Entenda-se antes demais que eu gosto particularmente do termo decadente. Associo-o ao movimento artístico e literário do séc. XIX. Associo-o a Oscar Wilde e a Charles Baudelaire… “Decadente, como se quer” é certamente, vindo de mim, coisa boa.

E coisa boa era efectivamente aquilo que nos esperava no restaurante The Decadente.

Depois de uns minutos de fim de tarde passados num banco de jardim ao Miradouro de São Pedro de Alcântara, eis que chegava a hora da surpresa que a Susana tinha preparado. Jantar. Só não sabia onde. Virar costas à paisagem, atravessar a rua que partilha o nome com o miradouro e chegar ás portas de um palacete, que no inicio do século passado terá sido construído para ser a residência oficial de um embaixador. Percebe-se a nobreza do edifício, e dificilmente se passará por ele sem o notar. É aqui que se encontra um dos mais recentes hostels de Lisboa, o The Independent. Portas passadas, virar à esquerda. é por aqui a entrada para o The Decadente.

Um bar, balcão de bancos altos, que por pequeno que pareça deixa alas abertas para as salas que se seguem. Dois copos de um fresco Rosé, sugestão da casa, que os jantares só se servem das 20 às 22 e das 22 em diante. Uns minutos de relaxe, copo na mão, apreciamos os espaço e a decoração que de alguma forma nos chamava à tal decadência que referi anteriormente. Como se quer.

Uns minutos depois é-nos proposta a passagem à sala de refeição. Seguimos o chefe de sala e ocupamos a primeira mesa. Em frente há também um pátio de mesas postas. Em breve estará cheio. Ficará para outra visita. O chefe de sala passa-nos ao Felipe, que acompanhará a nossa mesa e educadamente de dispõe a esclarecer qualquer duvida sobre a ementa que deixa na mesa. E começa a escolha.

O pica pau do The Decadente

As entradas no The Decadente são chamadas de “Conversas do Miradouro”.

A oferta é larga entre cremes de legumes, uma salada, dois carpaccios, camarões e a nossa escolha: “The Pica-Pau”. Pequenos pedaços fatiados de carne de novilho, cozinhados ao ponto com alho e mostarda antiga. A acompanhar, pedaços de pão bem fresco que pediam para ser banhados no molho. Bom, muito bom. Carne macia, dose certa para entrada. Venha então o resto.

Um prato de peixe vinha a calhar numa noite como aquela. “Há mar e mar, há ir e voltar” sugere 5 pratos vindos da agua. Um deles chamou à atenção pela ousadia: “Peixe da noite”. Lombo do peixe do dia em sautée, batata migada com alho e coentros e couve pak choy grelhada.

Talvez nem todos os peixes do dia sejam a melhor opção para um sautée mas ainda assim, resolvemos arriscar. Pampo. Excelente. Sendo um peixe de carne branca e firme, permite-se ao salteio sem grande risco.

Peixe da noite no The Decadente

Bem apresentado, a posta em bom tamanho não desiludiu. Na batata, saborosa, o que nem sempre se prova, o alho estava suave e o coentro dava um toque de cor. A couve, não tendo um “aperto” suave antes da grelha, pedia só menos um ou outro talo um pouco mais rijo. Ainda assim, rica de sabor, acompanhava perfeitamente.

Satisfeitos, e sempre acompanhados pelo serviço irrepreensível, passamos então ao prato de carne.

“Do interior para a cidade” é a lista de escolhas do restaurante.

Entre costeletas, bifes e bochechas, optámos pelo “Confit no Pato”. Perna de pato confitada com couscous de cogumelos Portobello e salsa, molho de soja e chalotas caramelizadas com laranja e tomilho.

Pato Confit do The Decadente

Pato confitado é outra escolha ousada. Horas de cozedura antecedidas de horas de preparação. Veio a rigor.

Muito bem apresentada, veio a perna do pato, brilhante e bem guarnecida de molho, encorpado quanto baste com um agridoce entre o salgado do molho de soja e o doce da laranja. As chalotas caramelizadas contribuíam para maior doçura. Os couscous, que admito até à data não ser grande apreciador, encantaram também. Muito além da tipíca cozedura, os pequenos grãos de massa estavam num ponto certo de secura onde os cogumelos e a salsa combinavam maravilhosamente. Quanto à carne, irrepreensível. Saborosa, a soltar os nacos sem perder a forma.

Era de pedir a sobremesa. Havia também boa escolha entre tartes, bolos e fruta mas a nossa recaiu sobre “De Seia para Lisboa”, um cheesecake de queijo de Seia e compota caseira de tomate. E que boa foi a nossa escolha.

O Cheesecake do The Decadente

Uma base do conhecido Cheesecake, sem demasiada humidade, crocante e apelando à ideia de biscoito, coberta por uma boa fatia de queijo de Seia e depois regada com uma geleia de tomate que pelo pouco doce e acertada dose de canela, combinava perfeitamente com tudo o resto. Excelente.

De beber, foi escolhido um Douro Vinha do Bispado. Um tinto de aroma adocicado, de vermelho transparente e com um final fumado e muito agradável. Também aqui a satisfação foi de monta.

Faltava a prova de fogo. O garoto clarinho que certamente já aterroriza algumas casas de Lisboa. O pedido é claro. Um café e um garoto clarinho. Leite quente com uma só gota de café. Veio e falhou. Um pouco mais escuro do que o esperado. Nem isso nos desanimou. Coisa que nem sempre vejo nestas situações, a Susana com um sorriso, pede que nos tragam outro, ou até só leite. Uma vez mais, com a simpatia que marcou a sua presença durante o jantar, o Felipe pede que lhe seja dada outra oportunidade. Trará mais um garoto. Veio perfeito.

Decadente. Como se quer.

Em casa cheia e onde nem por isso nos sentimos apertados, a gestão de reservas parece funcionar ao mais pequeno detalhe. Em pé só quem está a ser encaminhado para a mesa. Os tempos perfeitos levam a refeição a durar até ao próximo turno e nem se dá por isso. Numa noite como só em Lisboa, que chamava a ser vivida, a experiência que vivemos no The Decadente foi fantástica. A repetir certamente.

Restaurante The Decadente
Tipo de cozinha: Portuguesa Contemporânea
Horário: Das 12:00 às 15:00 ao almoço e das 20h00 às 24:00 para jantar.
Preço médio: 25€
Morada: Rua de São Pedro de Alcântara, 81
1250-238 LISBOA
Telefone: +351 213 461 381
Site: http://thedecadente.pt/

Há quanto tempo não vos escrevo aqui sobre descobertas gastronómicas? Muito, eu sei. Pois então, que um regresso às palavras em torno de sabores e encantos, seja marcado por um novo favorito na cidade de Lisboa: Populi.

Que se diga desde logo que, não será um restaurante para jantar todos os dias. Também serve pequenos-almoços, almoços e lanches e sobre esses ainda não vos sei o que vos dizer mas, sobre jantar, que fique assente: uma experiência a recordar. Pela positiva.

Noites de Agosto em Lisboa.

As noites de Agosto em Lisboa são dadas a estas coisas do comer com tempo. A renovada Praça do Comercio chama à visita, seja para a mera contemplação de uma serenidade que se agradece ao final do dia, olhando o rio, ou seja (e foi o caso) para a descoberta de um bom sitio para amesendar, comemorando os 13 anos de partilha a dois que o casamento consagrou a 07 de Agosto de 1999.

Assim, após a visita às vistas, às esplanadas e salas de porta aberta, optámos por experimentar o restaurante Populi, junto ao torreão Nascente da atrás referida Praça. Em boa hora o fizemos.

Num fim de tarde ainda soalheiro, escolhemos a sala ao invés da esplanada. A ocasião merecia uma solenidade diferente e uma atenção de maior monta que uma esplanada não garante. Recebidos à porta, é dada a escolha da mesa numa sala elegantemente decorada, ladeada por um balcão bar (e acesso guichet à cozinha) à esquerda de quem entra e uma garrafeira à direita, com tons castanhos a imperar pelas mesas desnudas de acessórios têxteis.

Escolhida a mesa e trocado o lugar (ele há raios de Sol inconvenientes mesmo dentro paredes), mostra-se muito prestável o serviço, de imediato propondo algum aperitivo enquanto se visita a carta. Optámos pelo clássico Martini que, por gosto pessoal seria branco.

Chega por essa altura o couvert à mesa, fazendo marcar a presença por umas azeitonas verdes geladas (é uma escolha e não um defeito), uma manteiga de ervas verdes (coentros?) quente e forte como na nossa opinião deve ser (de nada valem as ervas se só servirem a vista deixando o paladar e o olfacto ansiando por algo que não chega) e um azeite bem escolhido e bem temperado de balsâmico ao fundo, cuja suavidade só pedia que não se deixasse gota no vaso.

Chega a altura das entradas. Escolhidos entre uma oferta generosa foram os Peixinhos da Horta e os Ovos Revoltos com Farinheira. Se aos primeiros nós teríamos poupado alguns minutos de fritura (evitando um suave gosto a fumo) já nos segundos a única coisa que eu mudava seria o nome e passariam a Ovos Mexidos em vez de Revoltos. Quanto ao resto, no ponto certo e bem prendados que é como quem diz, com farinheira em dose abundante mas ainda assim, bastante equilibrada.

Ovos Revoltos no Populi

Passemos aos pratos principais do jantar.

Dos “Comeres do Mar”, coisas de peixes no entendimento da casa, veio para a mesa o Bacalhau Confitado com Puré de Grão e Bok Choy. Concordo com eles no ponto de que as coisas devem ser chamadas pelos nomes e Bok Choy é bem mais sexy do que couve chinesa. Em dois pedaços, peixe claro, fresco e suave, soltando a lasca com a goma certa. O puré servido na dose certa (que o grão pesa) e a dita couve oriental a dar o travo a grelo que refresca. A apontar só o caldo (que talvez se fizesse notar mais pela forma do prato) que em demasia levava ao diluir do puré mais rapidamente que o desejável. Ainda assim, a não esmorecer.

Já a carne, ou “Comeres do Prado”, se fez presente em forma de Lombinhos de Porco Preto Crestado em Molho Romesco. É um lombinho para ser mais correcto, mas bem presente. Uma cama de pequenas batatas novas, chalotas e Bok Choy a riscar de verde, tinha como base maior o tal Molho Romesco, que perante a pergunta de quem agradado não conseguia identificar o gosto picante do mesmo, lá me esclareceram que se tratava de um puré à base de tomate e pimento. A receita tradicional do dito molho, vim hoje a saber, tem também uma base de amêndoa. Pensando nisso, talvez estivesse presente. Não afirmo.

Lombo e Bacalhau no Populi

De uma apresentação muito cuidada ao sabor excelente, tudo estava no ponto certo.

Refeição acompanhada de uma sangria de espumante e frutos vermelhos (a moda não passa e ainda bem), sobre uma Aliança nacional. Esteve fresca e muito bem apresentada.

Chegada a hora das sobremesas, secundados pela opinião do Artur (chefe de sala?) escolhemos O Melhor Gelado de Chocolate do Mundo (sim, o nome não é coincidência) e o Crumble de Pêra. Quanto ao gelado, uma textura suave que ao derreter deixa chegar ao tal chocolate e à fina bolacha que o acompanha. Uma surpresa mesmo para que não é admirador convicto do dito doce. Já o Crumble chegou em dose generosa (e ainda bem pois o sabor pedia sempre mais uma colherada) e com uma apresentação cuidada, dos mirtilos ao suave doce que pintalgava o prato.

O café e o garoto clarinho viram a sua hora e, como já não nos admiramos, veio de seguida a pequena chávena só com leite quente pois a gota de café no “clarinho” tende sempre a ser não uma mas várias. Não é grave.

Finalizou o repasto, um muito floral e cítrico Moscatel Roxo José Maria da Fonseca (penso que se tratava de uma Colecção Privada Domingos Soares Franco) que veio a calhar como pièce de résistance (eu queria mesmo escrever isto, a sério), num estar que em tudo foi excelente.

Num ambiente sofisticado, o serviço foi exemplar. A presença em sala de quem acompanhava os Clientes, fosse junto à mesa ou no acto da recepção, sentia-se sem se fazer notar o que ajuda bastante à descontracção que se espera num bom jantar a dois.

Detalhes como a chegada do proprietário aquando do surgimento da musica (os oitenta em jazz vocal são sempre bem vindos) mostram que a casa é nova. O Chef que se ouve na cozinha a chamar pelo serviço mostra por sua vez que a dinamica está ainda a ser definida mas, tudo isso faz parte de um processo que, a ser correctamente afinado, pode garantir a presença do Populi durante muitos e bons anos na emblemática praça lisboeta.

Não é barato. Escrevi lá em cima que o Populi não é um restaurante para jantar todos os dias. Mas a ocasião pedia algo diferente e aqui a diferença fez-se notar.

Restaurante Populi Caffé & Restaurant
Tipo de cozinha: Fusão, Internacional, Portuguesa
Horário: Das 09:30 às 02h00.
Preço médio: 25€
Morada: Praça do Comércio, Ala Nascente, 85/86
1100-148 Lisboa
Telefone: +351 916 722 753
Site: http://www.populi.pt/