Time Warp Again. Para alguns de vós o nome terá sentido; conheceram a primeira versão nos tempos da pandemia, Time Warp Em Vinil, uma tentativa de fazer um podcast a partir dos discos de vinil que há cá por casa. Correu mal. A ideia era boa, a implementação falhou, a inspiração também. Coisas da vida.

Time Warp Again, discos de vinil no Digital

Dois anos mais tarde, os discos de vinil continuam a acumular cá por casa e, por muito que eu goste de os ver e ouvir por aqui, sempre tive a ideia de que o que mais gosto neles é o descobrir e partilhar a música que neles encontro. Jantares com amigos é uma boa forma de o fazer, mas não chega.  E é essa a ideia de partilha que me traz aqui, a apresentar-vos Time Warp Again, uns minutos de música, de tempos passados, presentes e, quem sabe, futuros (só ouvindo), acompanhados de uma ou duas palavrinhas.

E sim, vem tudo dos meus discos de vinil. Se podia fazer isto com uma playlist no Spotify? Talvez (ainda que eu tenha a certeza de que tenho discos cujas músicas não estão no Spotify), mas não era a mesma coisa. Pelo menos para mim.

E porque raio começo com o número 2? Porque penso que está melhor que o número 1. Eventualmente, um destes dias, também aqui publico o #1, mas convenhamos, se quiserem muito ouvi-lo, não é difícil de encontrar.

Ouçam, deixem os vossos comentários, criticas, ideias. Pode ser que o próximo seja ainda melhor.

 

O que podem ouvir no Time Warp Again #2? A saber:

Nancy Sinatra
Caís do Sodré Funk Connection
Ghetto Brothers
Green Peppers
Jackie Wilson
The Ides Of March
Lebron Brothers
La Femme

Drive

Who’s gonna tell you when
It’s too late
Who’s gonna tell you things
Aren’t so great

You can’t go on
Thinking nothing’s wrong
Who’s gonna drive you home tonight

Who’s gonna pick you up
When you fall
Who’s gonna hang it up
When you call
Who’s gonna pay attention
To your dreams
Who’s gonna plug their ears
When you scream

You can’t go on
Thinking nothing’s wrong
Who’s gonna drive you home tonight

Who’s gonna hold you down
When you shake
Who’s gonna come around
When you break

You can’t go on
Thinking nothing’s wrong
Who’s gonna drive you home tonight

Oh you know you can’t go on
Thinking nothing’s wrong
Who’s gonna drive you home tonight

Somebody

I want somebody to share
Share the rest of my life
Share my innermost thoughts
Know my intimate details
Someone who’ll stand by my side
And give me support
And in return
She’ll get my support
She will listen to me
When I want to speak
About the world we live in
And life in general
Though my views may be wrong
They may even be perverted
She’ll hear me out
And won’t easily be converted
To my way of thinking
In fact she’ll often disagree
But at the end of it all
She will understand me

I want somebody who cares
For me passionately
With every thought and
With every breath
Someone who’ll help me see things
In a different light
All the things I detest
I will almost like
I don’t want to be tied
To anyone’s strings
I’m carefully trying to steer clear of
Those things
But when I’m asleep
I want somebody
Who will put their arms around me
And kiss me tenderly
Though things like this
Make me sick
In a case like this
I’ll get away with it

E por agora é só.

Há uns tempos, num daqueles raros dias que chego a casa a horas decentes, aproveitei ser o primeiro a chegar e fui fazer o jantar. Até chegar à cozinha, passei pela sala e pus um disco de vinil a tocar. Música é sempre boa companhia. Era o Forever Changes, dos Love… Ironicamente, já perceberão porquê.

Musica Disco em Vinil Forever Changes

Passado um pouco, toca a campainha. Confirmando que se tratava da Susana e da Patrícia, abri a porta do prédio, deixei a porta de casa encostada e voltei para a cozinha (sim, que comida ao lume é coisa séria demais para se deixar sem companhia).

Ao entrarem em casa, a Patrícia foi ter comigo e a primeira coisa que me disse foi “Pai, a música está um bocado alta não?“, ao que lhe respondi que era era normal, uma vez que estava na cozinha e queria ouvir música mas, além disso, estava sozinho em casa, podia ter a música mais alta, sem incomodar ninguém. Pensava que a razão fosse clara e que a coisa ficava por ali. Não ficou. Quase de imediato a Patrícia pergunta “Então mas não tinhas comprado uns headphones no Natal para isso?”.

E naquele momento, deparei-me com a tal realidade dos mundos paralelos, que uma vezes se entrelaçam formando a trança perfeita e outras simplesmente colidem, com mais ou menos força, de forma mais ou menos brutal. E pode não parecer, mas foi brutal. Principalmente porque foi por causa da Patrícia que voltei a ouvir música em casa, que voltei a ouvir discos em vinil, no dia em que lhe quis mostrar o valor da música. Enfim, foi um choque. Aquele momento de “ouve lá a tua música, no teu canto, sem incomodar” foi o que mais incomodou.

Afinal, entendemos a música de forma diferente.

Não há nada de estranho no diferente entendimento da música, não é estranho que os gostos musicais sejam diferentes e que a forma como se ouve a música seja diferente. Eu próprio gosto de ouvir música de forma diferente em conformidade com o mood com que me encontro. O choque foi causado pela percepção dos caminhos diferentes. Eles crescem.

E foi com essa ideia de caminhos diferentes que resolvi abrir um novo caminho para mim, aqui, na Internet. Abrir e não seguir pois continuarei por aqui, no browserd.com, a escrever os meus desabafos costumeiros sobre o que me vai na alma (essa desgraçada), mais a reclamar do que outra coisa. No entanto, ali ao lado, no Sapo Blogs, abri o Gira Discos, um blog onde pretendo partilhar com quem tiver interesse em tais coisas, os discos em vinil que vou adquirindo, a sua história e, eventualmente, a minha história com eles.

Não sei se o Gira Discos vai durar, que regularidade vai ter, nem tão pouco a forma do dito está já bem definida mas, por enquanto, está lá, vai crescendo, com gosto, no seu próprio caminho, diferente.

Passem por lá, vejam se gostam, comentem, sugiram, subscrevam… e depois voltem.

Despacito será talvez a música do ano. Menos mal. Podia ser Felices Los 4.

Nunca tinha ouvido Felices Los 4, nunca tão pouco tinha ouvido falar de Maluma. E eis senão quando, um pouco antes ou um pouco depois de Luis Fonsi e Daddy Yankee terem dado um ar de sua graça na estação de rádio que tocava, surge o verso:

Si conmigo te quedas
O con otro tú te vas
No me importa un carajo
Porque sé que volverás

Espera… Como diz que disse? Então e o Despacito? Já se foi?

Percebendo o artista certamente que tal pérola não seria de fácil entendimento à primeira, repete logo de seguida, para que dúvidas não restem. Ainda não estava completamente convencido do que ouvia, quando surge nova estrofe, para arrumar de vez com a conversa:

Y si con otro pasas el rato
Vamo’ a ser feliz, vamo’ a ser feliz
Felices los 4
Te agrandamos el cuarto

Despacito? Volta, estás perdoado.

E é este o momento em que recordo o Despacito. “Tú, tú eres el imán y yo soy el metal…”? Sim, claro. Porque não?

Firmo en las paredes de tu laberinto
Y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito

Venha de lá isso então. Poesia da boa. E digo-o sem qualquer ironia (já “há, nos olhos meus, ironias e cansaços” que bastem).

Ainda me pergunto se entre os milhares (milhões) de almas que cantarolam isto de manhã à noite, haverá quem pense no que está a cantarolar. E logo de seguida recordo American Pie quando Don McLean cantava “And we sang dirges in the dark, The day the music died…”

Sim, American Pie, também ela tantas vezes cantarolada, bem e mal tratada mas, diacho, lembram-se da letra? Foram precisas 16 páginas de rascunhos (16 páginas a valerem qualquer coisa como 1.2 Milhões de dólares) para chegar até ao que conhecemos hoje como uma das mais enigmáticas peças da musica popular norte-americana. Deusas, a diferença…

Despacito? Não. Imagem dos rascunhos de American Pie

Uma canção que nos fala sobre três décadas da história norte-americana, da história da civilização pelo que nos concerne. Três décadas, uma eternidade, numa só música. Uma música que nos leva da morte de Buddy Hooly ao concerto dos Rolling Stones em Altamond, passando pelo Elvis, pelos Beatles, pelo Dylan, e Seegler, Baez, Joplin…

Leiam o artigo que Yeoman Lowbrow escreveu há uns dias na Flashback, The Day the Music Died: A Closer Look at the Lyrics of “American Piee depois pensem novamente no Despacito. E na outra que já não me lembro o nome… Lembrem-se também que, tanto a umas como a outras, chamam de música popular…

Já dizia o Rui Reininho “Faz-me impressão e baralho…” mas isso fica para outro dia.