“Então e o que vamos comer? Que tal irmos ao Talho?”. A ultima vez que tive esta conversa tive que explicar ao meu interlocutor que me referia ao restaurante O Talho. Ainda que se possa passar por lá, comprar uma boa peça de carne e levar para cozinhar em casa pois o restaurante é só parte do todo que é O Talho. A outra parte é, como já perceberam, um talho.

Ele é talho, é restaurante… É o restaurante O Talho.

Mas sem complicar, vou falar-vos do restaurante O Talho mais precisamente da minha última passagem por lá, no dia em que se comemorava o primeiro aniversario da casa.

Chef Kiko no restaurante O Talho by Pedro RebeloO Chef Kiko Martins teve a amabilidade de me convidar, juntamente com um grupo de ilustres comensais (Alexandra Prado Coelho (do Mais Olhos Que Barriga), Duarte Calvão, Miguel Pires, Paulina Mata (do Mesa Marcada), Raul Lufinha (do Mesa do Chef) – desculpem se esqueci alguém) para um almoço onde, para além de provarmos alguns dos principais pratos da casa, nos proporcionou também a possibilidade de ter uma animada conversa sobre a (ainda curta) história do espaço, as suas principais linhas orientadoras e conceitos.

Obviamente falámos também do estado da restauração em geral e de como esta tem mudado, evoluído, nos últimos anos. Em suma, um convite que, presumo eu, respondeu ao esperado: bons momentos em torno de uma boa mesa.

Estes bons momentos começaram com uma agradável conversa no talho propriamente dito. O espaço gerido pelo Chef Kiko, para além de restaurante é também aquilo que lhe dá nome, talho, onde podemos encontrar bons cortes das melhores carnes e peças já transformadas. Apresentada a equipa somos de igual forma “apresentados” a alguns dos tais cortes, porventura menos comuns mas que aguçam a curiosidade e abrem o apetite. Este falatório foi acompanhado entre outras coisas, por uns croquetes de cozido à portuguesa que, só vos digo, deixam boa memória.

Para começo de conversa no restaurante O Talho

Passámos à mesa propriamente dita e ai, um verdadeiro festival de sabores. Lugar comum na escrita é certo mas, na falta de melhor expressão, não me coíbo de a usar. Como chamar a uma refeição onde se inclui um Rosbife Asiático, finos pedaços de Alcatra acompanhados de sabores vários mais típicos de sabores a Este, finos fios de massa de arroz e uma ostra? Sim, o mar em prato de carne…

Não bastasse o regozijo já conseguido, serve-se um carpaccio que, para surpresa dos presentes, se faz acompanhar de umas já conhecidas e alaranjadas ovas de salmão. Uma vez mais, um contraste de gosto inesperado mas nem por isso menos cativante. Pelo contrário.

Mas venha de lá a refeição principal. E num talho…

O gosto da carne continuaria com um daqueles pratos que dá nome à casa (estranho, considerando que aparentemente pouca gente costuma referir o gosto pelo mesmo): O bife tártaro. E que bife tártaro. Conhecem o termo paixão à primeira vista (sim, que aquilo não era amor, tal o deleite com que rapidamente se consumiu)? Está ali, naquele prato.

A carne bem limpa, de cor ideal, fresca à vista e com o toque de gordura requerido. Bem cortada, picada à faca (sim, contrariamente ao que alguns pensam, o bife tártaro não é com carne moída), envolvida com a dose certa de alcaparras a dar o sal e chalotas para adocicar e ligada com a gema de ovo, subtil o quanto baste para não ganhar em sabor à carne. Sobre uma leve maionese de rábano, o toque mais agreste que ali faltava, vem à mesa com folhas de alga nori, sugerindo assim uma vez mais, um toque asiático e, de alguma forma quase subconsciente, outra vez o mar. Mistura-se, faz-se um rolo, saboreia-se com um trago de vodka.

Detalhes da refeição no restaurante O Talho

Uma refeição em que se louvava a carne e o gosto da mesma assim como a arte de quem a sabe trabalhar. E o Chef Kiko (com a sua equipa) sabe. Mais provas fossem necessárias (não eram), veio para a mesa uma trilogia de carnes. Poderia ser só um trio mas entendi a oferta como algo com uma linha, um caminho. No prato, e nesta ordem, uma Vazia fresca de vitela Maronesa, uma ponta de Acém maturada cerca de 3 semanas e uma Picanha do Uruguay. O prato queria nitidamente mostra-nos o valor da peça do meio. Nada a apontar a qualquer uma das outras carnes que se apresentaram como defensoras do seu bom nome mas, foi a peça maturada que deu o tal brilho especial ao prato. Fazendo-se acompanhar de uns mini-legumes que davam o toque meio crocante em contraste com o macio da carne, todo o prato era perfeito.  Ide. Ide e experimentai.

A sobremesa faz parte. E aqui, a carne ficou de fora.

Complementou-se todo este manjar com um toque de doce entre o amendoim (coisa que por norma não me lembro na sobremesa) servido em gelado, também de igual forma a banana e ainda o doce de leite que vem pastoso e muito doce, acertando a combinação com o fresco e o crocante do resto do prato, apelando nos sentidos a uma associação à america do sul e, por inerência de sabores, às carnes que nos foram servidas anteriormente.

Resumindo, o restaurante O Talho foi bem revisitado aquando do seu primeiro aniversário, num almoço memorável onde tive o gosto de conhecer pessoas bastante interessantes e que, tal como eu (independentemente de o fazerem e mostrarem de formas diferentes) nutrem especial apreço por uma boa mesa e por aquilo que nela se serve assim como por partilhar essas mesmas experiências.

Ao Chef Kiko Martins, uma vez mais o meu muito obrigado e o desejo de muitos e bons anos a levar o restaurante O Talho por bons caminhos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

*